A BMW Motorrad segue celebrando os 40 anos de seu maior case de sucesso, a família GS. Por isso, desenvolvemos três reportagens sobre o tema, explorando em diferentes perspectivas as Gelände Strasse, sinônimo de aventura em todos os continentes. Começamos aqui, narrando sua trajetória.
- GS 40 Years, série especial da BMW, terá produção em Manaus
- Review: relembre tudo o que a R 1200 GS pode oferecer
- Veja o review completo da BMW F 650 GS
BMW GS: 40 anos
O primeiro fruto da BMW Motorrad, divisão de motocicletas da marca alemã, surgiu em 1932 com a criação da R32. Nas décadas seguintes, a empresa ganhou notoriedade sobretudo com o desenvolvimento de grandes motos, especialmente nas décadas de 1950 e 60, muitas alimentadas pelo já conhecido motor boxer de dois cilindros. Mas aí vieram as japonesas.
Nos anos 1970 a indústria mundial assistiu, estupefata, a chegada das novas motos vindas do Japão. Puxadas pela Honda CB 750F, as esportivas eram movidas por modernos motores de quatro cilindros, eficientes, suaves, potentes. Já as off-road eram monocilíndricas, confiáveis e extremamente ágeis. A boa recepção às novas arquiteturas abalou muitas marcas europeias – provocando fechamentos, inclusive – e também impactou a BMW. Era hora de renovação.
Surge a primeira GS
No final da década, o então responsável pela companhia Karl Heinz Gerlinger decide atacar um novo nicho, o fora de estrada. Monta uma equipe com experiência na lama e liderada pelo engenheiro de motores Laszlo Peres, preparador de BMW’s para competições longe do asfalto. A missão era clara: enfrentar as monocilíndricas japonesas de igual para igual na terra e deixá-las na saudade nas rodovias.
O primeiro o foi a criação do Red Devil, uma versão compacta do tradicional motor boxer. Depois, adaptar o motor R80 (já com cilindros em Nikasil, igninição eletrônica e 10 kg a menos na balança) ao chassi tubular de berço duplo da R65 e somar ao conjunto a suspensão dianteira R100.
Visando garantir bom desempenho na poeira e áreas alagadas, foi criado um novo filtro de ar e um escapamento elevado, com saída 2 em 1. Para a suspensão traseira também foi pensado em algo totalmente novo. Um monobraço que era, ao mesmo tempo, a transmissão por eixo cardã e a balança traseira. Uma solução leve, resistente e inédita. Surgia assim o conceito Monolever, que logo se tornaria marca registrada do modelo.
Que modelo? A primeira representante da família, a R 80 G/S. O nome era uma união das iniciais de Gelände Strasse (campo e estrada, em alemão) ao numeral em alusão aos quase 800 cm³ do motor. Já o R indicava o uso do boxer de dois cilindros, como é até hoje. O lançamento à imprensa global aconteceu em 1980, no Palácio dos Papas, no sul da França.
Como era a R 80 G/S
Os jornalistas receberam a novidade com surpresa e intusiasmo. Mas havia um problema. Como classificá-la? Era uma trail, voltada ao uso em terrenos ruins e não pavimentados, mas também prometia bom desempenho no asfalto e até certo conforto, características que não definiam as aventureiras da época. Hoje o conceito para nós é claro, chama-se bigtrail.
A primeira GS entregava 50 cv a 6.500 rpm e 5,7 kgf.m de torque a 4.000 rpm, números que apontam à elasticidade e bom fôlego do motor desde baixas rotações. Pesava cerca de 200 kg, era capaz de atingir 180 km/h – reais, claro -, e tinha tanque de 20 litros para garantir larga autonomia (de aproximadamente 400 km), facilitando viagens.
Com o que existia de mais avançado na época, o conjunto empregava freios Brembo (com disco de 260 mm na frente e tambor atrás) e pneus Metzeler. As suspensões de longo curso contribuíam ao conforto, com 170 mm na já citada Monolever e 200 mm na dianteira. A receita encerrava com o design, moderno, remetendo aos modelos de competição e cores tradicionais da marca.
Vitórias no Dakar
Nada melhor que o Rally Paris-Dakar, criado em 1979, para comprovar o discurso da GS na terra. A R 80 estreou na competição ainda em seu ano de lançamento, obtendo o segundo lugar nas mãos do francês Jean-Claude ‘Fenouil’ Morellet. Ao todo, a motocicleta conquistaria 4 troféus de primeiro lugar, cinco de segundo e um de terceiro no maior rali do mundo.
Em 1981 veio o primeiro título, com o francês Hubert Auriol e uma GS original de fábrica. Em 83 ele repetiria o feito, mas agora com uma moto preparada para 980 cc e 70 cv, mesmo ano em que a dupla também faturou o rali Baja Califórnia – e seus 1.200 km. Em 84 teve dobradinha da GS, com o belga Gaston Rahier em primeiro e Auriol em segundo. No ano seguinte, Gaston garantiria a quarta conquista à R 80.
A BMW optou por deixar o Dakar de lado entre 1987 e 1998, quando voltou ao páreo com a recém-lançada F 650 GS. Monocilíndrica, a moto participou de uma nova era da competição e faturou dois títulos consecutivos, em 1999 e 2000, pelas mãos do francês Richard Sainct. Aliás, no segundo ano houve nova dobradinha, com o espanhol Oscar Gallardo e sua 650 em segundo. Nada mau.
Na época, a linhagem R seguia mostrando seu desempenho pelas savanas, desertos e montanhas. Tanto que a ‘R900 GS’ obteve o terceiro posto com o americano Jimmy Lewis, em 2000. Depois de provar a valentia de suas motos fora de estrada no rali, a BMW retirou-se definitivamente do Dakar no ano seguinte – falaremos mais sobre seu sucesso nas pistas em breve, em outra reportagem.
Cronologia BMW GS
Diante do sucesso da então novidade R 80 G/S, a BMW apresentou uma versão Dakar do modelo ainda em 1984. Em 87 ela aria a se chamar R 80 GS (sem o ‘/’ entre as siglas) e no mesmo ano seria apresentada sua evolução, a R 100 GS.
Entre suas inovações destaque à suspensão traseira Paralever, utilizada pela primeira vez. Tratava-se de um monobraço oscilante que incorporava o conceito de paralelogramo deformável, equilibrando resistência no fora de estrada e conforto em piso liso. Em 1993 o modelo recebia a suspensão dianteira Telelever, em que cada uma das bengalas tinha uma função própria, de amortecimento e outra de mola. A R 100 ficou nas lojas até 96.
A R 1100 GS surgiu em 94, com o inédito motor de quatro válvulas por cilindro e design totalmente renovado, perdurando até 1999. Seu motor entregava 80 cv a 6.750 rpm e 9,8 kgf.m de torque. No mesmo ano foi lançada a R 1150 GS , com motor de 85 cv e 10,4 kgf.m a 6.750 e 5.250, respectivamente. O câmbio também ava a ter 6 velocidades.
Em 2002 a 1150 deu origem à primeira representante da linha Adventure. Tanto na época quanto agora, os modelos são equipados com itens para mais conforto em viagens longas, como protetores de motor, tanque de combustível maior e alforjes e top case em alumínio.
Uma nova revolução ocorreu em 2005, com o desenvolvimento da Duolever. Inspirada no automobilismo, a suspensão dianteira usa só um conjunto de mola e amortecedor, ligando as bengalas ao chassi. Assim, se vale da ideia do Duplo A, ou Double Wishbone. O sistema é utilizado até hoje.
Em 2005 surge a R 1200 GS. Com 100 cv e 12 kgf.m, o modelo marca uma nova era tecnológica e a a oferecer uma série de recursos. Os freios eram ABS de segunda geração vieram em 2008, junto do ajuste eletrônico da suspensão (ESA), Controle Automático de Estabilidade (ASC) e novo sistema de controle de tração.
Em 2010 sua potência sobe para 110 cv a 7.750 e em 2013 surge praticamente uma nova geração. O motor a a ter arrefecimento a líquido e gerar 125 cv e a eletrônica oferece cinco modos de pilotagem. Gradualmente, o visual renovado divide espaço com faróis de LED, ignição sem chave, quickshifter e sistema anti-furto.
A 1200 atingiu um sucesso estrondoso, se fixou como a bigtrail mais vendida do mundo e conheceu sua sucessora em 2019. A R 1250 GS surpreendeu ao aliar ainda mais tecnologia ao conjunto, presente em elementos como a suspensão Dynamic ESA que regula automaticamente a ação dos amortecedores de acordo com a carga da moto e condições de uso. O motor também ou a contar com comando de válvulas variável, oferecendo um desempenho superior com seus 136 cv e 14,5 kgf.m. Saiba tudo sobre o modelo no nosso teste.
Outros modelos GS
Diante do sucesso da GS, seja nas competições ou concessionárias, a BMW decidiu dar uma família ao modelo. Assim, em 1994 surgia sua primeira descendente, a F 650 GS. O modelo foi desenvolvido na Itália em parceria com a Aprilia e equipado com motores Rotax.
Inicialmente, foram desenvolvidas as F 650 e F 650 ST, no conceito ‘Funduro’ – uma união de Fun, diversão, e Enduro. Com 652 cm³, um cilindro e arrefecimento a líquido, o conjunto entregava 47 cv a 5.700 rpm e 4,9 kgf.m a 4.200 rpm. Permaneceram no mercado até 2000, mirando em motociclistas que entravam agora no mundo das longas viagens.
Com o ar dos anos a 650 teve uma série de variações, abandonando o conceito Funduro, incluindo uma versão Dakar de 2000 a 2008. A partir de 2009 a motocicleta ou a ser montada em Manaus, dois anos antes de receber a ‘nossa’ versão Sertão que, mais voltada ao off road, incluiu a adoção de roda raiada de 21 polegadas na dianteira. Por aqui, a 650 GS foi vendida até 2016.
Em 2007 a BMW apresentou sua primeira aventureira com motor de dois cilindros em linha. Era a F 800 GS. Ela se destacava pelo vigor de seu propulsor arrefecido a líquido de 798 cm³, que entregava 85 cv a 7.500 rpm e 8,5 kgf.m de torque a 5.750.
Também apostava na tecnologia, representada, por exemplo, pelo ABS opcional. Mais tarde, chegou a receber o ajuste eletrônico da suspensão (ESA), controle automático de estabilidade e luzes em LED. Tudo derivado da ‘irmã’ maior, R 1200 GS.
A F 800 também emprestou seu motor e plataforma a outros modelos. As F 650 GS e F 700 GS, tinham os mesmos 798 cm³ sob o tanque, mas ajustes no propulsor e alimentação limitavam sua potência a 71 cv e 75 cv, bem como a 7,6 e 7,9 kgf.m de torque, respectivamente. Também tinham diferenças nas supensões, eletrônica e visual.
Em 2018 a BMW atualiza a família GS com as F 750, F 850 e F 850 Adventure. A potência da F 850 GS sobe para 95 cv e o torque para 9,4 kgf.m (no Brasil são ‘apenas’ 80 cv e 9,0 kfg.m, graças à limitações do nosso programa de emissões de poluentes) e seu pacote tecnológico é aprimorado.
A aventureira a a oferecer Dynamic ESA, ABS (e ABS Pró, otimizado para curvas), controle automático de estabilidade (ASC), controle dinâmico de tração (DTC), controle de cruzeiro, acelerador eletrônico e monitoramento da pressão dos pneus (TPC). Entre outros recursos há, ainda, sistema de partida sem chave e computador de bordo.
Além das F 750 GS, F 850 GS, F 850 GS Adventure, R 1250 GS e R 1250 GS Adventure, a família só está completa se considerarmos mais um modelo. A G 310 GS surgiu em 2016 com a missão de ser entrada ao universo da marca e, inclusive, seu motor compartilhado com a G 310 R é o único abaixo dos 500 cm³ já produzido pela marca alemã.
O modelo foi desenvolvido em parceria com a indiana TVS, uma das maiores fabricantes do imenso mercado indiano. É movida por um motor monocilíndrico, arrefecido a líquido, com 313 cm³, que entrega 34 cv a 9.500 rpm e 2,9 kgf.m a 7.500 rpm. Além do visual inspirado nas grandes motos da linha, possui computador de bordo, freios ABS comutáveis, câmbio de 6 velocidades e suspensão invertida. Relembre o teste com ela.
Série especial BMW GS 40 anos
A BMW GS, mais importante família de motos da marca alemã, celebrou 40 anos em 2020. Em virtude da data foram realizadas ações e, em julho, apresentada a Edition 40 Years, uma série especial que contempla toda a atual gama de aventureiras da empresa.
Por aqui, a edição comemorativa está nas F 750, F 850, F 850 Adventure e R 1250. Entre os itens exclusivos está a pintura e grafismos que mesclam tons de amarelo e de preto, em alusão aos modelos dos anos 1980. Algumas também têm aros dourados, em alumínio.
Sob o novo visual, os modelos 2021 das aventureiras sem alterações. Segundo a BMW, sua família GS coleciona mais de 1,3 milhões de clientes em todo o mundo. Além disso, as R 1200 e R 1250 GS são as big trail mais vendidas do planeta.